
O presidente gosta que os jornalistas, que não passam um dia sem estar com ele (ou vice-versa ), levantem a bola para ele cortar. Gosta de se aplaudir. Daí que, usando o velho argumento do lobo que se plantou do lado de cima do rio, Lula se queixa de que a oposição, na parte mais baixa, está turvando seu governo com dossiês. E se sai com a declaração de que as circunstâncias dirão a última palavra a respeito de ser ou não ser candidato em 2014. Passamos, eleitoralmente, à idade da pedra polida. Dá para esperar. O presidente mantém com as circunstâncias uma relação de velhos compadres que se comunicam num dialeto que as pessoas não alcançam. Entendem-se por intermédio de carta enigmática, que em vez de letras se vale de sinais, desenhos, ilustrações óbvias e recursos universais, que valem tanto – desde Adão e Eva – quanto palavras no mundo da comunicação virtual.
Não há semana em que os jornais, na falta de pior, não se lembrem de botar em circulação as intenções do presidente em relação ao que lhe couber depois de deixar o governo, do qual insiste em dizer que está se despedindo, embora com aquele jeito de quem vai ali na esquina mas logo estará de volta. Lula ainda não se refez do desencontro do grande público com a versão parcial da sua vida contada para explicar, mas para confundir em linguagem cinematográfica. Não repetiu na telona o sucesso que alcança na telinha.
Para preencher o ocioso e perturbador hiato de tempo, o Brasil vive o fim da pré-campanha dos pré-candidatos, tendo ao fundo a era do pré-sal numa pré-democracia que ainda não decolou. O presidente não se limita a presidir em tese. O presidencialismo autoriza sempre mais, é uma carta em branco para um presidente que não disfarça a disposição de voltar, e opera como se desconfiasse de que pode não voltar. E daí? Esta é a atmosfera em que se respiram arranjos eleitorais e se desconfia de muito mais. Lula dá apartes, provoca a oposição, passa por cima do petismo, tropeça nas palavras, opina sobre futebol, dá passos desajeitados na política externa, bloqueia a interna e bem poderia dizer, com o velho Chacrinha, que avisava, ao entrar em cena, que viera ao mundo para confundir, e não para explicar nada.
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