8 de julho de 2010

Beber cerveja na Copa é hábito de brasileiro, diz especialista

Além de gerar comoção em todo o Brasil, a época de Copa do Mundo estimula o consumo, especialmente de televisores e de cerveja. O que explica a mudança no cotidiano é simplesmente o ritual de ser brasileiro, de acordo com o antropólogo Édison Gastaldo. “O consumo de bebidas alcoólicas, em especial a cerveja, por ser algo popular, está associado a uma prática ritualizada. Beber em grupo traz a ideia de pertencimento a uma grande torcida.”
Gastaldo – cuja tese virou o livro ‘Pátria, chuteiras e propaganda’, da editora Annablume – lembra que outros povos, e não só os brasileiros, têm o hábito de beber durante os jogos. “Os italianos, por exemplo, assistem aos jogos bebendo vinho e comendo polenta. Brindar junto é também um ritual da Copa, no Brasil.”
Os petiscos da festa podem representar os adversários
A preparação dos quitutes e petiscos que estarão à mesa durante os jogos da seleção brasileira também tem um sentido diferente na Copa, segundo Gastaldo. “A comida consumida no dia do jogo também tem um sentido símbolo. Em 1998, no jogo contra Camarões, por exemplo, o petisco era camarão no espeto. A ideia é comer o adversário literalmente.”
O antropólogo aponta que, na cultura brasileira, o importante é estar junto. Além da Copa, existem outras práticas ritualizadas que organizam o ano e influenciam o consumo. Um exemplo é o aumento na demanda de ovos de Páscoa e de bacalhau no período da Semana Santa. “Essas práticas ritualizadas são previstas pelas fábricas que aumentam a oferta no período.”
O que é a Copa para o Brasil?
A Copa do Mundo é um fato social especial para a cultura brasileira. “É o verdadeiro momento de celebração da nacionalidade. Assim como a bandeira, a seleção brasileira também é um símbolo nacional.” A competição é vista como um momento de afirmação do país. “O Brasil gosta de ser uma potência entre os grandes, tanto que sempre é um dos favoritos a conquistar o mundial. O encanto da Copa é se colocar à prova.”
Uma possibilidade que não é cogitada pelos torcedores é que o Brasil fique fora da Copa do Mundo. “A seleção brasileira tem o poder de sintetizar o país e simboliza a identidade nacional.”
A propaganda não cria a demanda
A propaganda pode ser vista por alguns como uma meio de reforçar estas práticas ritualizadas. No entanto, para Édison Gastaldo, ela não cria a demanda. “Já existe uma procura que antecede os anúncios e campanhas.”
O antropólogo explica que as promoções, os novos produtos, as embalagens e os anúncios fazem parte de uma estratégia para conquistar o consumidor na hora da escolha do produto. “A Copa cria a demanda. A propaganda serve para diferenciar produtos e marcas. Em outras palavras, a propaganda empurra uma pedra que já está rolando.”

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