
Lula – como os presidentes que o antecederam – é especialista em mandar recados. Fernando Collor de Mello saía a correr com camisetas impressas com os avisos que queria mandar e os ataques que queria fazer. Já Fernando Henrique Cardoso preferia os bastidores e conversas em “off”. Mas todos se utilizavam da imprensa para alcançar seus objetivos. Usar das palavras, imprimir camisas, carregar isopor ou voar de helicóptero são, agora, formas de se comunicar. Mas o que, exatamente, Lula quis dizer quando deu as costas para vítimas de tragédias ao longo do ano – como em Angra dos Reis, Niterói e Santa Catarina – e agora resolve sobrevoar o Nordeste, enviando mais de R$ 1 bi para a reconstrução de cidades e, ainda, cancelando viagem que faria ao Canadá – onde participaria da cúpula do G-20 – para acompanhar de perto as ações na região onde nasceu?
Quando a chuva e as barreiras arrasaram e mataram centenas no Rio e Niterói, Lula não deu o ar da graça. Quando Santa Catarina ficou debaixo d’água, o presidente preferiu o Haiti onde deixou US$ 170 milhões em troca de grande repercussão internacional. A visita ao estado do Sul acabou adiada por um compromisso mais importante: a viagem ao Chile – atingido por terremoto. Somente agora o dindim dos catarinenses começa a cair de conta-gotas.
A tragédia no Nordeste, no entanto, recebe dele uma atenção especial, com a mobilização de ministérios – Saúde, Planejamento, Transportes e Minas e Energia, para citar alguns. Não que nossos irmãos não mereçam essa atenção. O fato é que todos fazemos jus ao mesmo tratamento. O que mudou dos primeiros dias do ano para hoje é que – agora – Lula está em campanha. Debaixo daquele isopor da praia da Base Naval de Aratu existe uma cabeça que pensa em eleger seu sucessor.
A máquina eleitoral está pronta para atender às demandas mais urgentes. O somatório dos gastos para reconstruir as cidades atingidas passou pela calculadora que avalia o preço de cada voto. Ou alguém acredita que se faz – em alguns dias – orçamento para recuperar estradas e cidades ainda submersas? Até o Governo sabe disso. O total dos custos é mero chute, achismo, palpite. Nunca antes na história deste país, o desembolso foi tão rápido. Na sexta-feira passada, o ministro do Planejamento, Paulo Bernardo, justificou a pressa em atender o Nordeste: “Tem estado com mais estrutura do que outros. Você vai sempre ajudar com mais rapidez aqueles que precisam mais de você”. Mas o recado nas entrelinhas é “vamos gastar o que for preciso, afinal, estamos em campanha, companheiro”. Como uma campanha exige – além de muito dinheiro – certos sacrifícios, Lula visitou as cidades atingidas pois, como afirmou, “é preciso pisar no barro, sentir o cheiro e ver as lágrimas”. Além dos quase R$ 300 milhões adiantados à região, a máquina – que atende pelo nome de Governo Federal, empenhado em fazer Dilma Rousseff subir a rampa – estuda a edição de MP para que o restante da bufunfa chegue logo a seu destino: os governos e prefeituras dos estados de Alagoas e Pernambuco.
Vemos pelos jornais que os milhares de desabrigados nordestinos – longe dos gabinetes do planalto central – têm fome e estão disputando por comida em lixões e nos acostamentos de estradas. Sabe-se lá quanto daquela ajuda em dinheiro chegará para alimentar e abrigar estas pessoas. As vítimas do Morro do Bumba, em Niterói – um assentamento de casas sobre um lixão desativado – ainda não viram cumpridas as promessas das autoridades.
No Nordeste, estão em estado de calamidade as cidades de Atalaia, Branquinha, Cajueiro, Capela, Jacuípe, Joaquim Gomes, Murici, Paulo Jacinto, Quebrângulo, Rio Largo, Santana do Mundaú, São José das Laje, Satuba, União dos Palmares e Viçosa. Lula visitou Rio Largo abraçou dezenas de pessoas e “quebrou o protocolo” – como se houvesse isso numa cidade devastada – para dizer ao microfone que estava ali para fazer o anúncio da chegada de benfeitorias e da reconstrução de escolas. Isso, na minha terra – localizada entre as Guianas e o Uruguai – é mero marketing eleitoral.
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